Pois é, depois de uma das campanhas mais apertadas em toda história presidencial brasileira, com um resultado péssimo no legislativo, a presidenta Dilma (com base de apoio no PMDB) decidiu pela "governabilidade". Depois de se jogar para a esquerda durante a campanha, valorizando as políticas sociais e econômicas de seu primeiro governo, a presidenta eleita foi fotografada carregando pra cima e pra baixo o último livro da trilogia sobre Getúlio, de Lira Neto.
Pode ser também influenciada por isso, e levando em consideração a conjuntura muito parecida com os últimos dias de GV (falta de apoio político no Congresso, crise política envolvendo a questão do petróleo e da Petrobrás, oposição maciça e dura da grande imprensa), Dilma escolheu um ministério de coalizão, bastante em desalinho com o discurso de campanha. Nomes como Gilberto Kassab pra cuidar da agenda urbana das cidades brasileiras, Kátia Abreu para cuidar da agricultura e Joaquim Levy para cuidar da Fazenda.
Para melhorar ainda mais tirou todos os nomes restantes ligados ao antigo presidente Lula, colocou um nome sem peso político e discurso relevante no Itamaraty (mais subfinanciado do que nunca), começou cortando os gastos pelos sociais, como o seguro desemprego, além de aumentar a luz e energia.
Enfim, lançou candidato próprio a presidência da Câmara e contra o candidato peemedebista, se contrapondo ao maior partido de sua base. E perdeu.
Considerando a história política do país (nunca nenhum período democrático durou mais do que o atual no Brasil) e a conjuntura atual (crises de corrupção, falta de apoio político na Câmara, Senado (um pouco melhor) e no Supremo, tudo se encaminha para o impeachment. É o que a grande mídia reverbera, é o que os juristas mais conservadores justificam legalmente, e é o que os políticos, inclusive os da base conservadora do governo, começam a desenhar (criação da CPI da Petrobrás, etc.).
Somado a tudo isso não há força nem vontade para que os grupos que foram fundamentais para a eleição de Lula (juventude, minorias e movimentos sociais) continuem defendendo o segundo governo Dilma. Ou alguém tem alguma dúvida que a grande massa da CUT vai sair com força nas ruas para defender o governo que corta o seguro desemprego? Ou que o MST vai fazer uma onda vermelha para defender a Katia Abreu? Ou que os movimentos de moradia ou pelo transporte público gratuito sairão nas ruas para defender a continuidade das políticas urbanas tocadas pelo Kassab?
O cenário, que parece dramático, não é tanto. Explico: Imaginemos que todo esse cenário realmente aconteça. Consideremos que assuma Temer (antes de dois anos, teria que convocar novas eleições). Mas se assumisse passados dois anos, daqui a um ano e meio (depois do Congresso liderado por Cunha e Calheiros fazerem a reforma política como propõe o próprio Temer e colocarem na pauta assuntos como o enterramento do aborto ou casamento e adoção gay).
Suponhamos que assuma Temer, após um ano e meio de descobertas de corrupção, massacre midiático e o que de mais retrógrado em leis serem aprovados. Como seria esse governo Temer. possivelmente depois de uma crise seria um governo de coalizão. Para isso ele teria que buscar apoio de todas as forças políticas disponíveis. Parecido com alguma coisa?
Vislumbro um governo Temer pós-impeachment com um perfil liberal na economia (bem visto pelo mercado e pela mídia, com perfil de corte de gastos sociais e privatizador). Assume na Petrobrás um nome de confiança internacionalmente conhecido: minha aposta seria Henrique Meirelles, ou Pedro Malan (o que dá mais ou menos no mesmo).
Para as cidades um político de carreira, com bom trânsito no Congresso e com as grandes forças do mercado: construtoras, empresas de ônibus e lixo (palpite: Gilberto Kassab).
Para os esportes, pasta de menor importância, poderia ser assumida por um nome que trouxesse apoio político. Poderia mesmo ser alguém da bancada evangélica, isso não seria prioridade de um governo Temer, poderia ser peça de barganha.
Para o ministério da Agricultura alguém que seja do gosto dos grande latifundiários e do próprio PMDB: Katia Abreu.
Para o ministério da Educação, alguém com perfil e discurso mais à esquerda, mas que tenha cintura suficiente para fazer as concessões. Seria bom alguém com base no Nordeste e passado de diálogo com os coronéis, tão queridos pelo PMDB. Que tal Ciro Gomes (ex-PSDB, ex-PSB, ex-PPS, ex-PMDB...). Pode ser ainda que o PMDB quisesse trazer parte da base da esquerda para o seu lado. Um nome forte seria Cristóvão Buarque.
Para a saúde um nome com perfil mais técnico, talvez Temporão. Ou melhor ainda, alguém que fosse uma boa vitrine para a área, que lançasse marcas estridentes e que fosse um nome de força: José Serra.
Para a articulação política qualquer um dos indicados por Cunha, Temer, Renan. Nome forte seria o ressuscitado presidente Sarney. De volta á carga para garantir uma reeleição para algum nome do PMDB em 2018. Quiçá Aécio Neves, em disputa interna no PSDB com Alckmin para a presidência, fosse ao PMDB para ser o nome de consenso, refazendo o caminho de seu avô à presidência, pelo mesmo partido.
Para o Meio Ambiente, ou o Itamaraty (o que escolher), nome forte seria Marina Silva. para qualquer uma das duas pastas um nome como esse levaria visibilidade e orçamento para essas políticas. Coisa que hoje em dia, não há. Há altivez sem capacidade (vide artigo do próprio Celso Amorim, dizendo que não se faz política externa sem apoio, visão e orçamento).
Para o Desenvolvimento Social o PMDB traria (como já havia trazido com Itamar) um nome de respeito na área, além de se aproximar do PSB: minha aposta seria Luisa Erundina.
Se essas elucubrações estivessem certas, nota-se que um possível governo Temer pouco mudaria (quando pensamos em prioridades políticas) do que se desenha o segundo governo Dilma. Ele seria ainda um governo com menor crise no legislativo, com maior apoio de todas as forças políticas (poderosas) do país e com maciço da grande imprensa e grandes interesses do capital nacional e internacional.
Talvez os únicos que perderiam seriam os excluídos e minorias. Mas estes já não foram levados em conta na governabilidade do atual segundo governo Dilma.
Tomara que eu esteja completamente errado.
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