quinta-feira, setembro 11

Allende Vive!

Ontem tava falando com meu camarada Tatu, que deve estar no aeroporto nessa hora da manha, pegando um vôo pra Santiago do Chile. Vai estar lá pela primeira vez na vida.

Falamos sobre o dia de hoje, triste aniversário de 35 anos do golpe de Pinochet (apoiado pelos EUA), que acabou com a única experiência do socialismo democrático que se tem notícia (ou pelo menos da que eu tenho notícia).

Enfim, Tatu falou que vai chegar no aeroporto, deixar as malas no chao e bradar: "Allende Vive!!". Achei ótimo, o cara é figuraça, dei muita risada. Mas depois, em casa, lendo as notícias da Bolívia fiquei pensando nisso antes de dormir.

Ele tem a mais absoluta razao, Allende vive mesmo. Mesmo com toda a sacanagem que se seguiu, o bombardeio de La Moneda, a morte de Allende com o rifle dado por Fidel, parecia que toda esperança latino-americana de mudança, de maior igualdade de nossos povos tao doídos, sem que ninguém pegasse em uma arma, tinha sido aniquilada junto.

Realmente era o que parecia, que esse sonho tinha acabado. O Chile tinha sido o último dominó a ser derrubado. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, tava tudo dominado.

Enfim, depois de décadas, um latino-americano desempregado e sonhador escreve numa maquininha japonesa, pra todo mundo ler: o sonho de Allende vive nos olhos do operário que saiu da merda da seca quando era criança, da falta de oportunidades desde pequeno, mutilado pelas máquinas da fábrica, e assim como Allende ganha a eleiçao presidencial em seu país depois de 4 tentativas. Vai tao bem e ganha de novo, reeleito principalmente pelas camadas mais baixas da populaçao, os mais beneficiados pelo seu governo.

No meio da Hispanoamérica Allende também vive. Nos olhos de um indiao do interior da Bolívia, que saiu do meio dos cocaleiros, de um casebre no matao do mundo, pra ser presidente do seu país, dignificar seu povo, tentar corrigir as grandes injustiças, sem dinheiro, sem nada, mas apoiado pela massa de indiao que hoje se mobiliza a seu redor, todos com seus olhos cheio de Allende.

Depois de 35 anos, Allende vive, mais do que nunca e para sempre.

Obs: No jogo de ontem, Brasil e Bolívia, pela primeira vez na vida torci contra o Brasil, em solidariedade aos hermanos que estao passando por tempos difíceis. O resultado foi o melhor possível, nenhum dos dois perdeu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Certo!

Indigesto disse...

Que lindo texto. Eu tb torci pros doces e bravos hermanos bolivianos. beijos.