Praias Desertas

O frio começa a aparecer lentamente. Parece que as folhas se jogam das árvores para se divertirem e balançarem no vento gelado e úmido que começa a aparecer cada vez mais aqui. A calefaçao da habitaçao de estudante vai demorar a chegar, e talvez ajude um pouco, algum dia, a esquentar o pé que cada vez mais se afoga nas poças parisienses (qualquer tipo de ajuda já é um espetáculo nesse país que faltou na fila da gentileza).

Ainda nao sei ao certo se minha recém-comprada bicicleta usada sairá andável da oficina, depois de uma semana de uso e uma roda a menos (a roda saiu sorrateiramente enquanto estava indo pra aula, em pleno Boulevard Raspail, 7h15 da matina de anteontem).

Ainda nao sei também se conseguirei ser aceito nos exigentes requisitos burocráticos franceses, e se for, sempre fica aquela incerteza sobre a minha competência, e a relevância real desse textinho que ninguém irá ler (muito mais aqui num instituto perdido no nada), e pelo qual perco meu tempo, meu ralo topete e dinheiro paterno.

Ainda nao sei se, se resolver os problemas anteriores, conseguirei algum trabalho enquanto isso para me sustentar, e que nao atrapalhe meus afazeres acadêmicos, e que contemple minhas horas de trabalho disponíveis (que tenho no visto, que ainda nao tirei e nao sei quando sai).

Ainda nao sei qual será o meu número de telefone nos próximos 9 meses e 2 semanas. Fiz o pedido, mas é sempre tudo um longo processo por aqui.

Mas assim como o ano passado passou, este tempo também passará.

E a única certeza que ainda tenho é que as praias desertas continuam esperando por nóis dois e a esse encontro eu nao devo faltar.

Obs: a foto ao lado é posterior ao texto escrito aqui. Ela é da primeira praia visitada depois que voltei ao Brasil definitivamente, realizaçao de um sonho de inverno parisiense. Foi tirada na Ilha do Superagüi, Paraná, no carnaval de 2007.

Como diria o poeta, a vida vem em ondas, como o mar.