Continuando aquela vez que escrevia coisas sobre "Tem coisas que só em Paris", aqui vi uma coisa que é muito típica. Tanto os bebês como os cachorros sao extremamente bem educados. Nunca vi um bebê que chorasse, mesmo nos metrôs, onde há muito barulho e fedor (o que às vezes até quase me faz chorar), e os bebês se comportam como lordes ingleses. Os cachorros aqui nao se diferenciam das pessoas no acesso a bares, cafés, metrôs, ônibus e museus. Sao gente como todo mundo, e nunca vi um cachorro latir aqui. Isto é impressionante.
Mas a máxima que diz que os cachorros sao parecidos com os donos aqui nao é verdadeira. É impressionante a falta de polidez e arrogância das pessoas que lidam com o público e dos franceses em geral para com os estrangeiros, nao é lenda nao. Existe um óbvio ranço de ex-potência colonialista em declínio, mas também existe uma certa "boludez" nas atitudes, que nao tem muita explicaçao.
Lembro meu primeiro emprego em uma empresa argentina importadora de graos. O meu chefe argentino, em alguns arroubos de sensibilidade, às vezes me chamava em sua sala entre um esporro e outro (me adorava chamar de "boludo", ou "pelotudo" - o que mais tarde aprendi que nao eram apelidos muito carinhosos para um argentino), para tentar me fazer entender como era aquela loucura de trabalhar sob o terror o tempo inteiro, e dizia: "Che, pibe, nosotros argentimos somos así, cuando trabajamos somos unos pelotudos de mierda como personas..".
Desde a primeira vez que cheguei aqui e tive o primeiro problema com as pessoas que me atendem, me vem uma frase na cabeça ("mas que boludo!"). Além da falta de educaçao no trato pessoal, os franceses, muitas vezes fogem à lógica capitalista só para manter o nível do mal atendimento. Dou um exemplo. Se sentam 5 pessoas numa mesa de um café às 15h30 da tarde, e o café está completamente vazio, sem ninguém, às moscas, ou melhor, nem as moscas estao lá. Na mesa das cinco pessoas, somente dois cafés sao pedidos. O garçom se volta quase que xingando os clientes e diz: Nao servimos dois cafés para cinco pessoas. E sai andando. Note-se que ele nao manda ninguém embora e deixa as pessoas ficarem lá o tempo que quiserem. Mas somente nao as serve (e assim nao ganha o que poderia ganhar com dois cafés). Esse tipo de coisa.
Bom, é claro que para toda regra existem exceçoes, e grandes exceçoes. Tenho feito vários grandes amigos aqui. A Benou e o já citado Yann, parisienses da gema, e seus respectivos amigos, sao doces de pessoa e me tratam com um carinho, atençao e hospitalidade que dificilmente alguém pode receber em qualquer lugar do mundo.
OBS: Já que estavamos falando de Bebês, achei a foto bem propícia. É quase que uma charge política. O bebê tá com um bigodinho do Hitler, e Sarko é o apelido do Sarkozy, candidato semi-fascista favorito à sucessao presidencial daqui. Entre outras coisas, seu discurso principal é de "eliminaçao dessa gente suja que mora nos banlieus" (pobres e descendentes de imigrantes, em sua maioria). É claro que ele nao chegou a criar rampa anti-mendigos, é por isso que ele é só semi-fascista.
Obs2: Nos meus estudos nesses dias descobri que a maior parte da imigraçao de franceses para América latina se deu para a Argentina (entre 1880 a 1920, cerca de 90% dos franceses foram para Argentina, 5% para Uruguay e o resto para outros países). Voilà!
Um comentário:
che culiado,
te extraño!!
abrazote!
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