Nesse intervalo entre Natal e Ano novo, aproveitei que as escolas, bibliotecas e praticamente toda cidade estava fechada para fazer as coisas que estava para fazer há tempos.
Uma delas foi visitar o Pantheón de Paris, que fica ali do lado do Jardim de Luxemburg (este é um lindo Parque, que foi a central nazista em Paris quando da ocupaçao alema), e atualmente tem exposiçoes permanentes de fotos nas sua grade que dao para rua, o que é uma ótima idéia - as calçadas ficam parecendo museus a céu aberto, e quase que fazendo parte do conjuntos de prédios das diversas faculdades da Sorbonne. No meio do Quartier Latin (onde, entre outras coisas, se concentraram as manifestaçoes de maio de 68), e pela proximidade com as universidades mais importantes, e livrarias, e cinemas de arte, é o centro estudantil de Paris- mas diferentemente de Sao Paulo, é mais concentrado e integrado à cidade do que a Usp.
Com as leituras meio conspiratórias que venho fazendo pra pesquisa (sobre o projeto cultural francês no exterior, também na nossa querida América "Latrina"), essa visita veio muito bem a calhar.
O lugar tem uma história interessantíssima, começou com um projeto do rei para a construçao de uma igreja. Com a revoluçao francesa, no meio de sua construçao, e com a criaçao de um Estado laico, o Pantheón também mudou, e começou a ser construído no que ele é hoje, uma casa dos Deuses, mas com particularidades à francesa.
Inspirado no Pantheón de Roma, que era a casa dos deuses romanos pré-catolicismo, o Pantheón de Paris, com a Revoluçao se transformou na casa dos mártires da República recém-criada (abrigando já as primeiras grandes figuras da Revoluçao). Essa idéia é muito interessante porque, além da transiçao dos valores religiosos para os valores republicanos, a França fez essa passagem da criaçao de Santos, ou imagens religiosas para os Heróis políticos. E dentro do Pantheón existe esse conflito, quando aparecem alguns quadros da padroeira de Paris (permitidos lá depois de Napoleao), com quadros de generais, comandantes e figuras políticas importantes no imaginário francês desde a Revoluçao.
Com certeza a criaçao desses heróis franceses e de um projeto político de expansao dos valores franceses como valores Universais teve papel fundamental na influência na expansao dos valores franceses no mundo nos últimos 200 anos (e inclusive na grande carga dos valores e heróis franceses nas instituiçoes, na Política e nas elites dirigentes da América "Latrina").
No Brasil, no contrário, nao temos até hoje um esforço estatal para criaçao de heróis políticos brasileiros, e aí podemos pensar em qual reflexo disso na formaçao política de uma identidade nacional e de projeçao política internacional. Nomes como Napoleao, Rousseau, De Gaulle, impoem mais respeito no Brasil do que se falarmos em D. Pedro, Joaquim Nabuco e Vargas. E a inspiraçao francesa nos modelos políticos da revoluçao republicana brasileira e nos modelos das instituiçoes políticas brasileiras se devem à crença de que o modelo frances era o mais "evoluído", mais "pra frentex" (adoro usar essa expressao).
Como a falta da criaçao estatal de heróis nacionais pode fazer com que isso se reflita no comportamento político de um país? E mais, como a falta dessa política de criaçao de líderes nacionais pode refletir no uso da imagem que o Brasil quer/pode "vender" no exterior? Politicamente, o que acontece com um país que nao tem líderes, heróis?
No Pantheón além dos heróis e grandes pensadores políticos como Voltaire, Rousseau, Montesquieu e vários outros, pela forma de exibiçao de suas lápides e de seus quadros, esses heróis substituem a figura dos santos. Assim como o Estado republicano substitui a figura de Deus no Estado, os heróis subsituem a figura dos Santos, de certa forma.
Até em Portugal, no meio do morrinho folclórico da Alfama, podemos achar lá o Panteao português, que coloca Cabral e Vasco da Gama junto com Amália Rodrigues, o que também é bem português.
No Brasil, ainda vemos nossos poucos heróis com uma desconfiança e distanciamento tamanho que os achamos anti-heróis. Nao quero repetir ninguém e entrar na areia movediça que é tentar entender como isso reflete na cultura (deixo isso para os antropólogos), mas queria entender isso politicamente, se seus desdobramentos na formaçao de uma política exterior (e sua possível utilidade).
Nao sei se é bom ou se é ruim politicamente, mas no Brasil nossos (anti) Heróis nacionais sao mais humanos, sao meio Macunaíma, meio Carlota Joaquina, sao um pouco gente com a gente, tiveram suas qualidades e seus defeitos, e principalmente nao tem e nao estao em nenhum Panteao. Nao sao deuses, e estao longe de serem santos. Resumindo, nossos heróis estao mais para os Orixás.
P.S.: Nas fotos, o chamado Olho de Deus, a abóboda do Pantheón vista de dentro; eu, tomando coragem pra ir visitar o mesmo, e vendo a nevona que caia no dia; A estátua de Voltaire no porao do Pantheón e Eu em La defénse, no mesmo dia, mais tarde.
P.S. 2, a missao: Usar o PS nao tem nada de anglicismo, pelo contrário. Vem do latim Post Scriptum. Adoro lembrar disso.
Um comentário:
Santo querido, seu blog está +qd+.
Gracias pelo link!
beijos
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